Total Linhas Aéreas: Primeira na Compra do C919 da Comac

A Total Linhas Aéreas e a Compra do C919 da Comac

A Total Linhas Aéreas é uma companhia aérea brasileira de carga e fretamento. Ela está prestes a se tornar a primeira empresa fora da Ásia a adquirir aeronaves da fabricante estatal chinesa Comac. Esta negociação já se estende por meses e pode representar um passo significativo para a Total. O sócio controlador da empresa, Paulo Almada, visitará a Comac em outubro. Ele discutirá a possível encomenda de até quatro aviões C919. Essa aeronave promete revolucionar a oferta de transporte aéreo na região. A compra do C919 da Comac pode transformar o mercado aéreo brasileiro.

Potencial Impacto no Setor Aéreo

Recentemente, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, confirmou que a Total procurou o governo brasileiro para compartilhar suas intenções de compra. No entanto, até agora, não foi apresentado um plano formal. Essa movimentação estratégica pode estreitar laços entre Brasil e China. Isso ocorre em um contexto diplomático mais amplo, com a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil em novembro.

Essa interação no setor aéreo destaca a crescente importância das relações comerciais entre os dois países. À medida que o Brasil busca diversificar suas parcerias comerciais e aumentar a competitividade de suas empresas no cenário global, a compra do C919 poderia representar uma oportunidade de fortalecimento das relações bilaterais. Contudo, apesar das perspectivas positivas, especialistas expressam um ceticismo fundamentado em relação a esse movimento.

Ceticismo em Relação à Confiabilidade

Carlos Ozores, sócio de aviação da PA Consulting Aviation, expressou preocupações sobre a capacidade da Total de realizar essa aquisição de maneira eficaz. Segundo ele, mesmo que um bom negócio seja fechado, o histórico de confiabilidade da Total não é comprovado. Além disso, a falta de uma rede de suporte robusta no Brasil pode tornar essa escolha uma opção arriscada. A manutenção e suporte técnico são essenciais para a operação segura de qualquer aeronave, e a inexperiência da Total com o C919 pode representar um desafio considerável.

Motivação para a Aquisição

Almada destacou que a Total precisou buscar opções fora dos fabricantes ocidentais tradicionais, como Airbus e Boeing, devido à dificuldade em atender à demanda por novos aviões. As restrições na cadeia de suprimentos que esses fabricantes enfrentam levaram a Total a considerar o C919 como uma alternativa viável. A Comac se comprometeu a entregar a aeronave até março do próximo ano, uma oferta atraente em um momento em que outras opções estão com prazos de entrega mais longos.

A Embraer, outra fabricante brasileira respeitada, também tem slots de produção disponíveis a partir de 2026, mas seus jatos são limitados a menos de 150 assentos. Isso reforça ainda mais a necessidade da Total de explorar novas possibilidades que atendam a diferentes segmentos de mercado.

O C919 e Suas Perspectivas

O C919 é um modelo de aeronave que acomoda até 192 passageiros, competindo diretamente com o Boeing 737 e o Airbus A320. Até o momento, apenas nove C919s estão em operação, todos pertencentes a companhias aéreas chinesas. A Total planeja usar os novos jatos em voos fretados, atendendo à demanda sazonal e urgente no setor. Essa abordagem pode permitir que a empresa maximize a utilização dos aviões em períodos de alta demanda, uma prática comum no setor de aviação.

A Total também pretende treinar seus pilotos e mecânicos na China, em colaboração com a Comac. Essa estratégia é um indicativo do comprometimento da Total em garantir uma operação segura e eficiente, um aspecto crucial no setor aéreo. Treinamentos adequados são fundamentais para a operação de novos modelos de aeronaves, especialmente aqueles que podem ter sistemas e tecnologias diferentes dos que a Total já opera.

Desafios da Certificação

Um dos principais obstáculos que a Total enfrenta é a falta de certificação do C919 fora da China. A Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) está avaliando o avião, enquanto a Total busca certificação no Brasil junto à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Até o momento, no entanto, não houve pedido formal de certificação. Essa situação representa um risco, pois sem a certificação necessária, a Total pode ter dificuldades para operar os C919 em seu território e, portanto, perder a oportunidade de expandir suas operações.

Implicações para a Relação Brasil-China

A compra do C919 poderia representar um marco importante para a economia brasileira, fortalecendo os laços comerciais com a China. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) mencionou que o Brasil espera reciprocidade em termos de demanda chinesa por jatos da Embraer, considerando o histórico da fabricante no mercado. Essa reciprocidade é fundamental para garantir que a relação comercial seja mutuamente benéfica e sustentável.

A Embraer vê a China como um mercado-chave, mas tem enfrentado dificuldades para conseguir novos negócios no país, especialmente após o fechamento de uma joint venture em Harbin em 2016. Essa nova dinâmica pode oferecer à Embraer uma chance de se reposicionar e aumentar sua presença no mercado chinês.

Conclusão

A Total Linhas Aéreas está à beira de um possível avanço significativo com a compra do C919 da Comac. Essa movimentação não apenas expande suas operações, mas também oferece uma oportunidade para fortalecer relações comerciais entre Brasil e China. No entanto, desafios como a certificação e a confiabilidade da Total permanecem questões cruciais que precisam ser abordadas. À medida que o cenário global da aviação evolui, o sucesso ou fracasso dessa iniciativa poderá ter implicações de longo prazo para a Total e para o setor aéreo brasileiro como um todo.


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