A Argentina volta a se tornar uma opção mais atrativa para os turistas brasileiros devido à alta do dólar. Desde a posse do presidente ultraliberal em 10 de dezembro, os argentinos têm enfrentado um aumento generalizado nos preços, resultado da eliminação dos congelamentos impostos pelo último governo peronista de Alberto Fernández e da desvalorização do peso oficial.
Enquanto os preços subiam, a taxa de câmbio do dólar ou real próximo ao “blue” permaneceu estável nas primeiras semanas, impedindo que os turistas vissem uma valorização diária de seu dinheiro em empresas de transferência, como a Western Union, e nas chamadas “cuevas”, casas de câmbio que são proibidas apenas na teoria.
Contudo, a partir da primeira semana de janeiro, essa tendência mudou, e a cotação paralela voltou a subir devido a diversos fatores internos, incluindo a possível retomada da demanda de argentinos por dólares como forma de fugir dos pesos, diante da inflação que dobrou e da queda nos rendimentos dos investimentos na moeda local.
Por exemplo, um turista que trocou dinheiro no último dia útil do ano, 29 de dezembro, retirou em média 1.000 pesos por dólar ou 190 pesos por real. Já aqueles que fizeram a troca nesta quinta-feira (18), quase três semanas depois, retiraram mais de 1.200 pesos por dólar ou 240 pesos por real, representando uma valorização de mais de 20% em relação ao peso.
No entanto, essa valorização parece estar acompanhando o aumento nos preços, e alguns brasileiros relatam uma sensação de que o turismo no país não está tão econômico quanto pensavam. A comparação é frequentemente feita com a temporada de inverno, que foi extremamente vantajosa para estrangeiros devido à longa e constante desvalorização que a moeda argentina vinha sofrendo na época.
“Achei os preços das refeições equilibrados com São Paulo, paguei cerca de 50 mil pesos [R$ 263 na cotação paralela da época] para duas pessoas”, conta a advogada Cecília de Oliveira, 50, que passou a semana passada em Buenos Aires com o filho.
“Os produtos eletrônicos apresentavam valores elevados, a ponto de eu optar por não realizar nenhuma compra”, relata Cecília. De fato, produtos importados ou com componentes importados ainda costumam ser mais caros na Argentina, considerando as restrições à importação que vigoravam até o último governo e foram recentemente retiradas por Milei.
Cecília optou por levar reais em dinheiro vivo e realizar alguns gastos da viagem no cartão de crédito, uma prática que, nos dias de hoje, não faz mais tanta diferença. Até o final de 2022, as compras com meios eletrônicos no país vizinho podiam custar o dobro ao turista.
Essa mudança ocorreu devido à proximidade do valor do dólar “blue” com o dólar MEP (mercado eletrônico de pagamentos), utilizado como referência para a cotação cobrada nos cartões de crédito estrangeiros no país. Utilizar serviços internacionais, como a Wise, pode ser ainda mais vantajoso, pois a taxa de IOF é de apenas 1,1%.
O economista argentino Ignacio Galará, do Centro de Estudos Monetários e Financeiros de Madri, ressalta a volatilidade do mercado paralelo, alertando que essas tendências podem mudar a qualquer momento. “Hoje posso afirmar que o ‘blue’ é mais vantajoso, mas amanhã a situação pode ser diferente”, destaca.
Ele propõe uma recomendação para quem pretende explorar as regiões do país vizinho: “Pode ser mais vantajoso, e até mesmo crucial, levar dinheiro em espécie e realizar a troca no mercado paralelo. Nessas áreas, a taxa de câmbio costuma ser significativamente mais alta em comparação com Buenos Aires, devido à menor disponibilidade, e as transações eletrônicas não são tão comuns. Além disso, ao pagar em dinheiro, é possível negociar descontos.”
A Argentina ainda enfrenta diversas limitações na compra de dólares, com diferentes cotações dependendo do setor. Essas políticas foram adotadas para conter a fuga da moeda americana, em meio a uma escassez histórica de reservas, resultado de elevadas dívidas externas acumuladas ao longo de várias crises.
Milei promete unificar essas taxas de câmbio e liberar a compra de dólares, mas ressalta a necessidade de primeiro resolver os déficits do país para evitar uma hiperinflação ainda mais severa. Por esse motivo, sua atual ênfase está em cortar gastos e funcionários públicos, além de buscar aprovação no Congresso para as radicais reformas propostas por meio de decreto e pacote de projetos de lei.