A inflação medida pelo IPCA-15 desacelerou em dezembro, indicando que o índice deve encerrar 2024 próximo a 5%. Embora a alta de 0,34% em dezembro tenha ficado abaixo dos 0,62% registrados em novembro, o acumulado do ano ainda ultrapassou o teto da meta de 3%, definida pelo Banco Central. Segundo o IBGE, a inflação acumulada em 2024 chegou a 4,71%, mostrando desafios para o controle inflacionário, especialmente em um cenário de política monetária mais rígida.
Se os dados de dezembro forem confirmados no índice cheio (IPCA), o Banco Central terá que justificar novamente o descumprimento da meta. Essa seria a oitava explicação desde 1999, quando o regime de metas foi implementado. A partir de 2025, o Brasil adotará um sistema contínuo de metas, com obrigatoriedade de justificativa em caso de descumprimento por seis meses consecutivos.
Os alimentos e bebidas representaram os maiores impactos no índice, tanto no mês quanto no acumulado do ano, com alta de 1,47% em dezembro e 8% em 2024. Produtos como óleo de soja, carne bovina e carne suína apresentaram aumentos expressivos, enquanto itens como batata-inglesa e tomate tiveram quedas.
Alta nos Alimentos e Pressões no IPCA-15
O grupo de alimentação e bebidas foi destaque em 2024, acumulando alta significativa. Em dezembro, o óleo de soja subiu 9,21%, seguido pela alcatra com 9,02% e contrafilé com 8,33%. Esses aumentos foram impulsionados por fatores sazonais e pelo impacto do câmbio, que também afetou outros itens de consumo.
Por outro lado, alguns itens registraram queda nos preços. A batata-inglesa caiu 9,85%, enquanto o tomate e o leite longa vida recuaram 6,71% e 2,42%, respectivamente. Esses movimentos ajudaram a conter uma alta ainda mais expressiva no índice geral, mas não foram suficientes para reverter a pressão inflacionária no setor de alimentos.
Transporte e Habitação: Dinâmicas Divergentes
Os transportes apresentaram alta de 0,46% em dezembro, impulsionados pelo aumento de 4,43% nas passagens aéreas e pela leve elevação nos combustíveis, de 0,09%. Esses fatores também contribuíram para a pressão inflacionária no mês, embora em menor escala.
Já o grupo de habitação registrou uma deflação de 1,32% no mês, resultado da redução de 5,72% nas tarifas de energia elétrica residencial, devido à bandeira tarifária verde. No acumulado do ano, no entanto, o setor registrou alta de 3,44%, destacando a complexidade das dinâmicas de preços em diferentes áreas.
Banco Central Intensifica Aperto Monetário
O Banco Central, preocupado com as expectativas desancoradas de inflação, decidiu intensificar o aperto monetário em sua última reunião do Copom de 2024. A taxa Selic foi elevada para 12,25% ao ano, com previsão de mais duas altas de 1 ponto percentual em 2025. Essa decisão reflete os riscos crescentes no cenário fiscal e cambial, que podem comprometer ainda mais a estabilidade dos preços.
Economistas projetam que a taxa Selic possa alcançar 15% até meados de 2025, permanecendo nesse patamar até o final de 2026. Além disso, os efeitos do aperto monetário já estão sendo sentidos na economia, mas os especialistas alertam que pode haver necessidade de ações adicionais para controlar a inflação.
Desafios e Perspectivas para 2025
Embora a inflação de 2024 tenha ficado próxima ao índice de 2023, os desafios para 2025 são ainda maiores. As projeções indicam que o IPCA-15 continuará pressionado por fatores como desvalorização do câmbio e aumento de custos nos setores de alimentos e serviços.
Com a adoção do sistema de metas contínuas, o Banco Central terá que ser ainda mais proativo em suas ações para evitar descumprimentos frequentes das metas de inflação. Isso inclui ajustes na política monetária e maior atenção às dinâmicas fiscais, que têm papel central na formação das expectativas de mercado.
Conclusão
Os dados do IPCA-15 reforçam o cenário desafiador para o controle da inflação no Brasil. Apesar do avanço nas políticas monetárias, fatores como câmbio, alimentação e combustíveis continuam a pressionar os índices.
Com as mudanças previstas para 2025, o Banco Central enfrenta a tarefa de equilibrar medidas de controle com os impactos na economia. O foco deve ser na convergência da inflação para a meta, garantindo estabilidade e previsibilidade para consumidores e investidores.