A postura do Federal Reserve em tempos de incerteza
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, voltou ao centro do debate econômico dos Estados Unidos ao sinalizar que não é o momento para cortes nos juros. A declaração vem em um período marcado por incertezas econômicas crescentes, tarifas comerciais agressivas e os efeitos prolongados da pandemia de Covid-19.
Nos últimos anos, Powell se destacou por sua habilidade de intervir quando a situação exigia. Em 2020, durante a pandemia, ele prometeu suporte total à economia. Em 2022, foi direto ao ponto ao alertar sobre a inflação. E em 2023, após a falência do Silicon Valley Bank, o Fed atuou para manter a estabilidade dos mercados financeiros.
No entanto, o cenário de 2025 é mais nebuloso. Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca e o anúncio de tarifas comerciais inesperadas, o banco central adota uma postura de “esperar para ver”.
Por que o Fed evita um novo “Fed put”?
O termo “Fed put”, criado após ações do então presidente Alan Greenspan em 1987, se refere à percepção de que o banco central intervém para sustentar os mercados financeiros. Powell deixou claro que esse não é o momento para repetir essa estratégia.
“Há muita espera e observação em andamento, inclusive por nós”, afirmou Powell.
Essa cautela é compreensível: intervenções precipitadas podem exigir correções posteriores, o que comprometeria a credibilidade do Federal Reserve. Além disso, a inflação ainda é uma preocupação real — impulsionada, agora, por tarifas que elevam os preços de importados e reduzem o poder de compra das famílias.
A inflação segue como obstáculo
O crescimento do emprego em março ainda mostra força, mas o impacto das novas tarifas ainda não se refletiu plenamente nos indicadores. Com a taxa tarifária média podendo saltar de 2,5% para 25%, o efeito imediato será sentido nos preços ao consumidor.
Economistas projetam que isso pode aumentar a inflação em pelo menos 1 ponto percentual no ano, distanciando ainda mais os preços da meta de 2% do Fed. O risco é de estagflação — quando inflação e desemprego sobem simultaneamente.
Um novo tipo de choque econômico
Diferentemente de choques tradicionais causados por pandemias, problemas de oferta ou crises energéticas, o que se vê agora é um choque político. As tarifas impostas por Trump visam pressionar economias concorrentes como a China, mas o efeito colateral pode ser um enfraquecimento da própria economia americana.
“Não está claro neste momento a trajetória apropriada para a política monetária”, admitiu Powell.
Nesse cenário, qualquer corte precipitado nos juros poderia parecer um sinal de fraqueza ou desespero, o que o Fed quer evitar a todo custo.
A missão difícil de equilibrar inflação e emprego
Powell reconhece que o Fed enfrenta um dilema. Ao tentar conter a inflação com juros mais altos, corre-se o risco de frear a atividade econômica e aumentar o desemprego. Por outro lado, reduzir os juros muito cedo poderia reacender pressões inflacionárias.
“Os efeitos na margem, neste momento, seriam uma inflação mais alta e talvez um desemprego mais alto. Isso é difícil para um banco central”, concluiu Powell.
Qual é o futuro da política monetária nos EUA?
A decisão de manter os juros estáveis, por ora, mostra que o Federal Reserve prefere esperar por mais dados antes de agir. A estratégia é baseada na ideia de que o cenário pode mudar rapidamente, seja para melhor ou para pior.
Alan Blinder, ex-vice-chair do Fed, reforça essa visão:
“Se isso se transformar em uma recessão, o Fed provavelmente cortará. Mas não antes disso.”
Conclusão: cautela é a palavra de ordem
A política monetária dos EUA está em compasso de espera. Powell e o Federal Reserve sinalizam que não há pressa para mudar o rumo, mesmo diante de incertezas causadas por tarifas e possíveis tensões comerciais globais.
Ao adotar essa postura cautelosa, o Fed busca preservar a estabilidade econômica sem comprometer sua credibilidade. Afinal, em tempos de instabilidade, agir rápido demais pode ser tão perigoso quanto não agir.