O dólar sobe à máxima em três meses frente ao euro após sinais do Federal Reserve de que novos cortes de juros podem não ocorrer este ano, em meio à paralisação do governo dos EUA e dados econômicos limitados.
Dólar em alta: incertezas no Fed e paralisação do governo impulsionam moeda americana
O dólar atingiu nesta segunda-feira sua maior cotação em três meses em relação ao euro, ampliando os ganhos acumulados na semana anterior. O movimento reflete as incertezas sobre a possibilidade de novos cortes nas taxas de juros do Federal Reserve (Fed) ainda em 2025, além dos impactos da paralisação do governo dos Estados Unidos sobre a divulgação de dados econômicos cruciais.
Expectativas frustradas com novos cortes de juros
Na semana passada, o Fed reduziu sua taxa de juros em 25 pontos-base, conforme o mercado previa. No entanto, o chair Jerome Powell indicou que essa pode ter sido a última redução do ano. Segundo ele, é preciso cautela para evitar medidas adicionais sem uma visão mais clara do desempenho econômico.
Essa declaração mudou o sentimento dos investidores, que antes apostavam em novos cortes até dezembro. Atualmente, as apostas de mercado indicam cerca de 70% de probabilidade de um novo corte, contra 94% da semana anterior, segundo dados do mercado futuro (0#USDIRPR).
Paralisação do governo adia divulgação de dados-chave
A paralisação do governo norte-americano também contribui para a incerteza. Com boa parte dos órgãos públicos suspensos, dados oficiais de emprego e produção industrial podem ser adiados, dificultando a leitura da saúde econômica dos Estados Unidos.
Se não fosse pelo impasse político, o relatório de emprego fora do setor agrícola (payroll), previsto para esta semana, ajudaria a indicar os rumos da política monetária. No entanto, os investidores terão que se basear apenas nos dados privados da ADP e nos Índices de Gerentes de Compras (PMI) do Instituto de Gestão de Fornecimento — indicadores que costumam ter menor peso sobre as decisões do Fed.
Divergências internas no Federal Reserve
Dentro do próprio Fed, há divisões quanto ao ritmo ideal de flexibilização monetária.
Vários presidentes de bancos regionais expressaram desconforto com a recente decisão de reduzir os juros, sugerindo que a medida pode ter sido precipitada. Por outro lado, Stephen Miran, diretor do banco central, defendeu nesta segunda-feira uma postura mais agressiva, com novos cortes ainda este ano para sustentar o crescimento econômico.
Essas divergências alimentam a volatilidade nos mercados de câmbio, já que as expectativas sobre o rumo dos juros são o principal motor do dólar frente a outras moedas.
Euro pressiona, mas não sustenta recuperação
O euro chegou a cair para US$ 1,1505, seu menor valor desde 1º de agosto, antes de se recuperar levemente para US$ 1,1518. A fraqueza da moeda europeia foi impulsionada pelos dados decepcionantes da produção industrial dos EUA, que mostrou contração pelo oitavo mês consecutivo em outubro.
Mesmo com a leve melhora, o quadro geral ainda aponta para uma economia americana resiliente, enquanto a zona do euro enfrenta desafios estruturais mais profundos, como a desaceleração da demanda e o impacto das tarifas sobre produtos importados.
Iene mantém estabilidade
Enquanto isso, o iene japonês (USDJPY) permaneceu praticamente estável em relação ao dólar, refletindo um equilíbrio momentâneo nas expectativas dos investidores. O Banco do Japão continua mantendo uma política monetária ultrafrouxa, contrastando com a postura mais cautelosa do Fed, o que limita grandes variações cambiais no curto prazo.
Perspectivas para as próximas semanas
Para o mercado, os próximos dias devem ser marcados por movimentos cautelosos e menor volume de negociações. A ausência de dados oficiais e a indefinição sobre o futuro da política monetária americana devem manter o dólar em um patamar elevado em relação às principais moedas globais.
Caso o governo dos EUA normalize suas operações e as divulgações de indicadores retornem, o comportamento do emprego e da inflação será determinante para definir os próximos passos do Fed.
Até lá, a moeda americana tende a manter o protagonismo, favorecida por seu papel de ativo de refúgio em meio às incertezas políticas e econômicas.


