O Vietnã fechou 86 milhões de contas bancárias que não cumpriram exigências de biometria facial. Entenda o impacto da medida, a reação dos defensores do Bitcoin e como isso pode influenciar o futuro das finanças globais.
O fechamento em massa de contas no Vietnã
O sistema financeiro do Vietnã entrou em evidência internacional após relatos de que mais de 86 milhões de contas bancárias foram encerradas por não cumprirem a nova exigência de autenticação biométrica facial.
Segundo veículos locais como o Vietnam+, o processo começou em 1º de setembro de 2025. Enquanto essas contas foram desativadas, outras 113 milhões foram verificadas de acordo com as novas normas impostas pelo Banco Estatal do Vietnã.
A medida visa reforçar a segurança contra fraudes, lavagem de dinheiro e crimes digitais, especialmente após o aumento de golpes com uso de inteligência artificial generativa e falsificação de identidade.
A polêmica da biometria obrigatória
As novas regras determinam que os clientes bancários devem realizar autenticação facial biométrica em duas situações principais:
- Pela primeira vez ao atualizar seus dados;
- Para realizar transferências acima de 10 milhões de dong vietnamitas (cerca de US$ 379).
Além disso, transações acumuladas que ultrapassem 20 milhões de dong (cerca de US$ 758) também exigem a verificação.
O objetivo declarado é prevenir crimes financeiros. Um caso emblemático ocorreu em maio, quando a polícia desmantelou uma quadrilha que usava falsos escaneamentos faciais com IA para lavar aproximadamente 1 trilhão de dong (US$ 39 milhões).
No entanto, críticos apontam que a medida entrega ao banco central uma capacidade de vigilância sem precedentes, levantando preocupações sobre privacidade e liberdade financeira.
Estrangeiros enfrentam maiores dificuldades
Relatos de residentes estrangeiros sugerem que a implementação das novas regras trouxe entraves inesperados.
Um usuário identificado como Yukzor contou em um fórum que precisou viajar de volta ao Vietnã para atualizar sua biometria, a fim de manter ativa sua conta no HSBC. Sem a atualização presencial, sua conta seria encerrada.
“É 2025 e ainda precisamos voar para outro país só para resolver algo assim? Isso é insano”, escreveu.
Especialistas em cripto como Herbert Sim, o “Homem Bitcoin”, confirmaram que a situação afeta principalmente estrangeiros e contas inativas, sem grande impacto sobre a maioria da população local.
Bitcoin como alternativa à dependência bancária
Para defensores do Bitcoin, como Marty Bent e Daniel Batten, o episódio no Vietnã é mais uma prova de que o dinheiro descentralizado é essencial.
Bent destacou que a medida lembra episódios em países como Líbano, Turquia, Venezuela e Índia, onde governos já bloquearam acesso a fundos de cidadãos.
“Se os usuários não cumprirem até 30 de setembro, perderão acesso ao próprio dinheiro. É por isso que usamos Bitcoin”, afirmou.
Segundo Batten, ao impor controles tão rígidos, o banco central vietnamita se aproxima de um sistema de vigilância financeira de próxima geração, onde cidadãos não têm controle real sobre seu dinheiro.
Biometria e blockchain: duas visões de segurança
O contraste entre as novas exigências bancárias e o modelo do Bitcoin é claro.
- Sistema bancário tradicional: exige autenticação biométrica centralizada, monitorada pelo Estado e sujeita a bloqueios arbitrários.
- Bitcoin: oferece acesso direto e irrestrito aos fundos, desde que o usuário controle suas chaves privadas, sem depender de aprovação de terceiros.
Essa diferença reforça o discurso dos entusiastas da cripto, que defendem a ideia de que a blockchain representa a autonomia financeira verdadeira, em oposição à crescente vigilância estatal.
Impactos para o futuro financeiro global
Embora parte da mídia internacional tenha destacado os números impressionantes — 86 milhões de contas encerradas — especialistas apontam que o caso pode estar sendo superdimensionado, já que muitos afetados são estrangeiros ou titulares de contas inativas.
Ainda assim, o episódio serve como alerta global. O avanço da biometria bancária não se restringe ao Vietnã e já começa a ganhar espaço em outros países da Ásia, bem como em regiões da Europa.
Para investidores e usuários de criptomoedas, a lição é clara: medidas governamentais inesperadas podem limitar drasticamente o acesso a fundos tradicionais.
Conclusão
O fechamento de milhões de contas bancárias no Vietnã demonstra como a intersecção entre tecnologia, segurança e vigilância estatal pode impactar diretamente a vida financeira de milhões de pessoas.
Enquanto o governo defende a biometria facial como solução para fraudes digitais, defensores do Bitcoin enxergam na medida uma confirmação da importância de um sistema financeiro sem censura e sem intermediários.
O caso vietnamita pode não ser o último — e talvez seja apenas o início de uma era em que cada vez mais pessoas busquem alternativas descentralizadas para proteger sua liberdade financeira.


