A recuperação do minério de ferro ganha força após medidas de apoio na China e interrupções no fornecimento. Entenda os fatores que impulsionam os preços e o que esperar do mercado nos próximos meses.
O mercado global de commodities voltou a ganhar tração nesta semana, e o minério de ferro — uma das matérias-primas mais sensíveis às oscilações econômicas chinesas — não ficou de fora dessa movimentação. Após duas sessões consecutivas de queda, os preços futuros registraram alta, impulsionados principalmente por novos sinais de apoio político na China e por interrupções inesperadas na oferta. O cenário reacendeu o sentimento de alta entre investidores e reforçou a percepção de que, mesmo em meio a incertezas, o minério ainda encontra fundamentos sólidos para oscilações positivas.
A recuperação começou na manhã de segunda-feira, quando o contrato mais negociado de janeiro na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) mostrou firmeza logo na abertura. Logo depois, o minério de ferro de referência negociado na Bolsa de Cingapura, com vencimento em dezembro (SZZFZ5), subiu 0,87%, alcançando US$ 104,85 por tonelada. O movimento animou o mercado, especialmente após as perdas recentes.
Mas o que está realmente por trás dessa retomada? A resposta envolve política econômica, logística global, demanda sazonal e, claro, a influência sempre decisiva da China — maior produtora e consumidora de aço do planeta.
Sinais de apoio ao setor imobiliário chinês impulsionam os preços
Um dos principais gatilhos para a alta foi a sinalização de que Pequim pode anunciar novas políticas de suporte ao setor imobiliário, que vem enfrentando desafios há anos. A mídia estatal chinesa destacou que o governo estuda medidas como:
- Subsídios hipotecários para compradores de primeira viagem;
- Descontos maiores no imposto de renda para mutuários;
- Custos menores nas transações imobiliárias.
Essas propostas foram rapidamente interpretadas pelos analistas como um aceno positivo para a construção civil — setor que responde por grande parte da demanda de aço e, consequentemente, de minério de ferro.
Segundo analistas do ANZ, o simples fato de tais medidas estarem sendo consideradas já foi suficiente para elevar o sentimento do mercado, uma vez que o setor imobiliário é um termômetro direto do consumo de aço na China.
Interrupções na oferta criam um suporte adicional para os preços
Outro fator de peso foram as interrupções no fornecimento, que ajudaram a sustentar a alta mesmo diante de um cenário de demanda ainda frágil. A Galaxy Futures observou que novas restrições no lado da oferta alimentaram o sentimento bullish de curto prazo.
Entre os elementos que chamaram atenção está a decisão do comprador estatal chinês de minério de ferro, que ordenou que siderúrgicas suspendessem a compra de um tipo específico de minério da BHP. A medida se soma a outra proibição já em vigor e intensifica uma disputa relacionada a um novo contrato comercial.
Essas tensões comerciais aumentam a pressão sobre o fluxo global de minério, reacendendo receios sobre escassez e criando um ambiente favorável a movimentos especulativos.
Apesar da alta, perspectiva para o aço chinês segue pressionada
Mesmo com o impulso recente, especialistas alertam que o cenário não é totalmente positivo no longo prazo. Isso porque o mercado de aço na China continua pressionado por fatores estruturais.
A China Iron & Steel Association divulgou em seu último relatório mensal que espera que os preços domésticos do aço permaneçam sob pressão, especialmente com o avanço do inverno e a consequente queda na atividade industrial.
O clima frio reduz a demanda e afeta diretamente os níveis de produção. Some-se a isso os estoques já elevados, e o resultado é uma perspectiva de cautela para o setor.
Produção global de aço em queda acentua incertezas
O esfriamento do mercado não é uma exclusividade chinesa. A produção global de aço caiu 5,9% em outubro, no comparativo anual. Na China, o recuo foi ainda mais expressivo: 12,1%, segundo dados da Associação Mundial do Aço.
Essa queda reforça que, embora o minério possa ter movimentos pontuais de alta, a demanda estrutural segue fragilizada, principalmente pela desaceleração da construção civil e por políticas de restrição ambiental.
Estoques nos portos permanecem elevados
Outro ponto observado pelos analistas é o aumento dos estoques chineses de minério de ferro, que avançaram 0,03% na semana, alcançando cerca de 139,6 milhões de toneladas, segundo dados da SteelHome.
Estoques elevados costumam limitar altas mais consistentes nos preços, já que indicam que as siderúrgicas têm material suficiente para atender à produção mesmo em períodos de oscilação na oferta.
O que esperar do minério de ferro nos próximos meses?
A combinação de estímulos econômicos, tensões comerciais e interrupções no fornecimento cria um ambiente volátil — mas cheio de oportunidades. No curto prazo, os preços podem continuar encontrando suporte nos anúncios de Pequim e nas restrições à oferta.
Já no médio prazo, a tendência dependerá fortemente da recuperação do setor imobiliário chinês e da capacidade de estabilização da produção global de aço.
Para investidores e empresas do setor, este é um momento que exige atenção redobrada aos sinais políticos e às movimentações logísticas. O minério de ferro segue sendo uma commodity altamente sensível a cada notícia, e entender esses movimentos é fundamental para tomar decisões estratégicas.


