A Reserva Federal dos EUA deve anunciar um corte de 0,25 ponto na taxa de juros, mas a divisão interna no Fed gera incertezas sobre novos cortes em 2026. Entenda o impacto no mercado financeiro, inflação e expectativas econômicas.
A decisão de política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) desta semana deve movimentar intensamente o mercado financeiro global. A expectativa dominante é de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, um movimento já precificado pelos investidores, mas que carrega um alto grau de incerteza sobre o que virá a seguir.
Essa reunião acontece em um momento delicado: dados econômicos importantes foram atrasados pela paralisação de 43 dias do governo norte-americano, e o próprio comitê do Fed está dividido sobre a necessidade — e o ritmo — de novos cortes de juros.
O mercado sabe que um corte vem.
O que ninguém sabe é qual será o tom da mensagem que acompanha essa decisão.
Um Fed dividido entre inflação persistente e risco de desaceleração do emprego
Internamente, os formuladores de políticas monetárias estão longe de falar a mesma língua.
De um lado, parte dos dirigentes teme que a inflação ainda elevada volte a ganhar força caso os juros caiam muito rápido. Do outro, há a visão de que o mercado de trabalho pode enfraquecer de maneira mais intensa se o Fed não continuar reduzindo os custos de empréstimo.
Esse conflito promete influenciar profundamente a comunicação do comitê.
O economista Stephen Miran, por exemplo, tem defendido cortes mais agressivos — de 0,50 ponto percentual — e pode discordar novamente na votação. Já outros dirigentes regionais têm se posicionado publicamente contra qualquer redução adicional no curto prazo.
Em resumo:
O Fed está rachado.
E quando o Fed racha, o mercado treme.
Por que esta reunião é tão crítica?
Além da decisão de juros, o Fed divulgará:
- Nova declaração de política monetária
- Projeções econômicas trimestrais
- Perspectiva de inflação, emprego e taxa de juros para 2026
Mas há um detalhe essencial: essas projeções podem simplesmente envelhecer em poucos dias.
Isso porque, logo após a reunião, sairá um conjunto robusto de dados atrasados, incluindo:
- Relatório de emprego de novembro
- Indicadores de inflação
- Estatísticas atualizadas pós-paralisação
Esses números podem mudar completamente o cenário — e até contrariar o discurso que Powell fará na coletiva.
O que o mercado projeta para 2026?
Hoje, investidores esperam:
- Dois cortes adicionais de 0,25 ponto até o fim de 2026
- Taxa básica estabilizada entre 3,00% e 3,25%
Em setembro, o comitê estava mais conservador, projetando uma faixa de 3,25% a 3,50%. Oito dos 19 dirigentes, inclusive, defendiam juros ainda mais altos.
Michael Feroli, economista-chefe do JP Morgan, acredita que a ala mais conservadora pode manter a projeção praticamente inalterada, elevando a “barra” para novos cortes.
Em outras palavras:
Mesmo que o corte desta semana aconteça, não espere um ciclo frouxo e acelerado.
O fator Trump e o impacto político na política monetária
Outro elemento pesadíssimo na equação é o ambiente político.
O presidente Donald Trump vem pressionando para cortes mais significativos desde que voltou ao governo. Ele também está em processo de escolher um possível sucessor para Jerome Powell — e já deixou claro que a disposição em reduzir os juros pesa na seleção.
Isso cria um ambiente tenso:
- Powell está próximo do fim de seu mandato (maio).
- O mercado questiona se seu sucessor terá credibilidade.
- O próprio Fed luta para manter sua comunicação clara e coerente.
Analistas do Standard Chartered observam que há um verdadeiro “cocktail de incertezas” envolvendo:
- a fragmentação das visões dentro do FOMC,
- a comunicação pouco confiável recente,
- os atrasos de dados econômicos,
- a iminente troca de liderança,
- e a dúvida sobre quem terá voto nas próximas reuniões.
A consequência?
O mercado pode simplesmente não acreditar em tudo o que o Fed sinalizar agora.
Como Powell deve se posicionar na coletiva?
Powell falará 30 minutos após o anúncio das 14h (EST).
A expectativa é que ele adote um tom equilibrado, mas analistas avaliam que:
- Ele deve enfatizar que novos cortes só ocorrerão caso haja deterioração significativa do mercado de trabalho.
- A declaração de política pode indicar que um novo corte nas reuniões seguintes é menos provável.
- Ele tentará responder às críticas políticas sem parecer influenciado pelo governo.
Powell está pisando em ovos — e o mercado sabe disso.
Conclusão: uma decisão já esperada, mas um cenário completamente indefinido
O corte de 0,25 ponto percentual parece inevitável, mas o verdadeiro impacto está no discurso, nas projeções e na clareza (ou falta dela) sobre o caminho da política monetária.
Com dados atrasados, divisão interna, pressão política e incertezas estruturais, esta reunião do Fed promete ser uma das mais sensíveis dos últimos anos.
Para os investidores, analistas e empresas, o foco não deve ser apenas no corte — mas nas entrelinhas que definirão as expectativas para 2026.


